Era disso mesmo que eu precisava. Não há nada como uma boa caçada noturna para reanimar um espírito rebelde. Durante a caça não preciso me preocupar com o que os outros membros da matilha estão planejando; não preciso me fazer parecer uma boa menina para que Kida possa ser vista como uma nobre na frente de Wolfgart e, principalmente, não fingir me importar com a vida de cada um daqueles malas que ficam me pajeando o dia todo, como se eu fosse uma bonequinha de porcelana que eles tem que polir constantemente. Aqui eu posso ser eu mesma.
Meus pés descalços saboreiam o toque da grama, meus pulmões se enchem com a brisa da noite e a caçada começa. A calça jeans aperta um pouco e a blusa pinica com meu suor, mas não posso correr o risco de tirá-las e me expor, caso esbarre com algum humano desavisado. Afinal, muitos casais jovens vem até a beira da floresta pra namorar. Como eu gostaria de poder dizer que já desfrutei desse mesmo prazer inocente. Enfim, é melhor me acostumar com a roupa e correr atrás da minha presa.
Não muito longe daqui há uma clareira onde os animais silvestres costumam ir para acasalar. Droga, até os cervos estão com a vida amorosa mais em dia do que a minha e ter esses seis vira-latas me rondando não ajuda. Eu já cansei de despistá-los na mata, mas a liberdade momentânea não compensa o sermão de Kida: “Você é uma filha da Matilha da Meia-Lua, não pode se dar ao luxo de vagar sem os guardiões, blá, blá, blá...” Que saco, só de lembrar das palavras dela já é como se ela estivesse aqui reclamando. Eu até admiro o poder que ela transmite através das palavras e, segundo ela, eu também aprenderei a falar dessa forma com o tempo. Até lá, vou apenas fazendo o possível para aguentar essa baboseira toda. Chega de Kida, estou aqui pra caçar e esquecer a matilha.
Cheguei na clareira de forma sorrateira. Muito bom, tenho três alvos para escolher: um grupo de coelhos, fácil de mais; um lobo solitário dormindo, me recuso a caçar lobos. Não é legal caçar nossos primos e, por fim, um jovem cervo, provavelmente procurando uma parceira para acasalar, perfeito. Encontrei a minha presa.
Espero ansiosamente até que ele entre na mata, no momento em que o faz a perseguição começa. Apesar de jovem, ele já viveu o bastante para saber quando sua vida está em perigo. Ele é ágil, chega a ser divertido correr atrás dele. Eu poderia saltar sobre suas costas e acabar com isso em instantes, mas isso tiraria o prazer da caça, meus instintos falam mais alto do que a estratégia e o prazer da corrida consome o meu corpo até que eu consiga alcançá-lo.
Posso sentir o cheiro de seu medo quando agarro seu pescoço e é como se sua vida se tornasse um fluxo que eu sinto esvair por entre os meus dedos quando quebro o seu pescoço. Foi divertido. Me alimento um pouco com sua carne para repor as energias do dia e permito que os guardiões dividam o resto entre eles. Afinal, os malas se esforçaram pra me acompanhar.
Bem, a diversão acabou, é hora de voltar pra casa. Talvez eu passe na doceria e compre um chocolate pra levar pros filhotes, eles ainda não podem caçar e não é justo que não apreciem algo de bom de vez em quando.
Vamos tornar o final dessa noite interessante, será que os malas conseguem me acompanhar numa corrida até a beira da floresta? Começo a me empenhar na corrida, eventualmente sorrindo para eles na penumbra da floresta, mas algo me chama atenção em um ponto da mata. A corrida pára e fico observando o ponto que me chamava a atenção. Com os guardiões aqui, jamais conseguirei perseguir esse tipo de instinto em paz. Observo o vento soprando e o farfalhar das folhas nas copas árvores, não sei porque, mas meu coração está disparado. Não é medo, é uma sensação que nunca experimentei antes, meu estomago fica embrulhado e um calafrio percorre a minha espinha. Acho que isso quer dizer que, seja lá o que for que está me observando, nós nos veremos de novo. Então, com um sorriso no rosto decido retomar a corrida pra casa. A noite acaba de valer a pena.
Muito bom o conto. Gostei especialmente da última frase:"A noite acaba de valer a pena."
ResponderExcluirvida sentimental no lixo a dela né? gostei muito! gosto de contos assim :]
ResponderExcluir" A noite acaba de valer a pena", pois " tudo vale a pena, se a alma não é pequena" (Fernando Pessoa)
ResponderExcluirMuito bom, garoto...continue voando com as asas da iamginação e permita-se os maiores voos possíveis.
Gostei dos detalhes. Bem "vampiro"
ResponderExcluirLerei os outros.
Ah mlk bom esse rapá!!!
ResponderExcluirCara tá muito legal o conto.
Eu, talvez mais do que qualquer um, espero que você se anime e volte a escrever seu livrocom força total.
Torço muito pra voc~e cara!! E sei que voc~e tem o potencial necessário para ser um dos melhores escritores brasileiros de livros de fantasia.
Grande abraço meu querido!!!
Essaê Renato! Esse blog vai longe bixo!
ResponderExcluirCê é o cara!
Ansioso pelo próximo conto!
O interessante do conto é a abordagem. Vc desenvolve bem a ação do conto, mas dá à personagem um certo desenvolvimento psicológico de uma maneira leve e dinâmica.
ResponderExcluirParabéns!!!
Engraçado que quando eu quero me distrair a primeira coisa que eu procuro é isso aqui hahaha, ta demais Re, adorei do jeito que ta, da ate para escrever um livro.
ResponderExcluirbeijos Luana Dantas
Muito boa história, muito boa construção!!
ResponderExcluirParabéns!!
Legal a história! Mas me deu a idéia de faltar algo... Talvez precise continua-la :) Beijocas
ResponderExcluirVirei fã de Carterinha agora hahahaha
ResponderExcluirvocê tem uma escrita que me prende.é muito dificil isso acontecer.Adorei o conto bem cheio de mistérios e um vontade de ter mais e mais!!!
É uma historia que te prende, de tal modo que não posso deixar de ler o próximo!!
ResponderExcluirEstá cada vez mais interessante!
Adoreii ^^
ResponderExcluirmuito bom,sentimental demais pro meu gosto mas vlw,rrrrrrsssssss,legal,vou ver os outros agora, vamo lá.
ResponderExcluirSo far, a melhor história que li até agora no blog! rs
ResponderExcluirPelo jeito, as mais recentes devem ser muito boas.