sábado, 15 de maio de 2010

Leituras e Interpretações

Lá vou eu. Mais uma tentativa inútil de extrair algum conhecimento dessa biblioteca medíocre da faculdade. Nunca vi disso, uma única prateleira interessante. E nem é de ocultismo de verdade. É apenas de esoterismo. Se eu tiver algum pecado pra redimir, certamente, vasculhar essa prateleira é o modo certo de fazer isso.

Um livro sobre vampiros é o melhor que eu consigo aqui, talvez seja interessante, basta que ele não venha me dizer que vampiros montaram uma banda emo que brilha na luz do sol. Não suporto essas teorias adolescentes, esse pessoal poderia, no mínimo, estudar um pouco antes de sair escrevendo besteira pra agradar a um bando de menininhas que acabaram de entrar na puberdade. A verdade certas vezes é dura demais pra esse pessoal aguentar.

A biblioteca daqui é sempre vazia nesse horário, a maior parte dos alunos passa a hora do almoço discutindo nas lanchonetes ou perturbando o juízo dos professores. Teoricamente isso seria algo ruim, o que explicaria a maré de notas baixas da maioria dos alunos, mas, ao menos pra mim, não é assim. Eu vejo isso como uma brecha para ter algum sossego estudando sozinha.

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Uma hora se passou desde que eu comecei a ler. Até que o livro não é dos piores, só não tem utilidade nenhuma pra pessoas, como eu, que querem aprender sobre magia de verdade. Eu não tenho ilusões de grandeza pra achar que vou sair por ai caçando vampiros ou qualquer loucura desse tipo. Isso é muita viagem! Até por quê, eu, até hoje, não tive problemas com vampiros. O único que eu conheci era até gente boa. Ou talvez isso é o que ele estava querendo que eu pensasse na ocasião.

Quando me preparo para devolver o livro inútil a prateleira de onde ele, provavelmente, não deveria ter saído e voltar à aula, reparo que tem alguém mais averiguando a prateleira onde peguei o livro. “Quem será ele?” Eu me pergunto. Só há um modo de saber. Assim sendo, lá vou eu bancar a boba esperançosa.

Eu ainda decidia como puxar assunto quando os olhos azuis dele praticamente me fazem enlouquecer. Poucas vezes alguém me fitara com tamanha intensidade. Ele caminha calmamente até a mesa onde eu estava e se senta olhando pra mim.

Antes que eu consiga assimilar que ele ainda está de fato ali, sua voz melodiosa lança a pergunta: - Você não quer se sentar comigo? Acredito que podemos ter uma conversa bastante interessante. – Por essa eu definitivamente não esperava. Primeiro, o cara aparece na sessão de livros que só eu visito, logo depois, ele me chama pra conversar. Finalmente as coisas estão melhorando.

Ainda meio sem jeito, eu me sento, ponho o livro de volta sobre a mesa e pergunto: - Sobre o que você quer conversar? – É, eu sou péssima em escolher as palavras para dar início a um diálogo.

Pra minha sorte ele parece não concordar. Ao menos o sorriso que aparece em seu rosto me diz que não. Acho que estou encabulada. Faz tempo desde que algum rapaz se dispôs a conversar com a menina louca que sonha com o futuro e fica fuçando livros de ocultismo por aí.

Vejo seu olhar fitando o livro que eu, até então, julgava inútil; sem que eu perceba os olhos dele estão de volta nos meus e antes que eu consiga pular fora de minha própria confusão mental, ele diz: - Não deixe que lhe desencorajem. Você é detentora de dons únicos, com o tempo eles começarão a fazer sentido e, através deles, você poderá ajudar outros a fazer a diferença nos dias que estão por vir. Até lá, apenas continue se dedicando as coisas que o seu coração acha importantes. – Devo estar sonhando, parece que estou tendo um daqueles diálogos loucos que tenho comigo mesma nas noites depressivas em que preciso de alguém pra me animar.

Me sinto um pouco acanhada. Desvio o olhar por um instante e vejo algumas pessoas passando e me olhando pela janela como se eu estivesse fazendo algo realmente estranho. Quando olho de volta pro rapaz, me deparo com a cadeira vazia. Pra onde ele foi? Ele estava bem aqui e... Era bom de mais pra ser verdade. Aconteceu de novo.

Acho melhor eu dar o fora daqui. Ou então esses desocupados vão começar a fofocar (ainda mais) sobre mim. Pego a minha bolsa e o livro que eu tencionava devolver e volto pra aula. Já tenho algo pra me empenhar enquanto ouço as mesmas correções de exercícios de sempre e finjo estar prestando atenção.

As horas se arrastam. Os segundos parecem minutos e os minutos parecem horas. Eu já nem sei mais sobre o que estou lendo. Um capítulo inteiro passou diante dos meus olhos e eu não consigo citar uma palavra se quer do que acabei de ler. Durante todo o dia, meus pensamentos se voltam para o mesmo tópico: será que eu realmente estava fazendo algo de estranho? Digo, ainda mais estranho do que o de costume. Agora eu dei pra imaginar pessoas e interagir com elas? Eu finalmente enlouqueci de vez? Ou será que isso é só o início de alguma coisa e esse cara, seja ele quem for, está querendo me apontar alguma direção? Eu, definitivamente, não tenho essas respostas, mas prefiro acreditar que as coisas finalmente estão começando a acontecer.

13 comentários:

  1. Maluqinha, maluquinha...
    Gostei pra kct...
    :P

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  2. Muito boa a crítica sobre Crespúsculo no início! hahahaha

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  3. ..."A verdade certas vezes é dura demais pra esse pessoal aguentar."
    isso é a mais pura verdade! as pessoas não aguentariam saber a metade do que a gente sabe. haha (mistério)

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  4. Renato faz duas coisas extremamente interessantes no universo do conto: assumiu o invólucro do sexo oposto e deixou lacunas propositais.
    No caso da pele feminina, é preciso ter coragem, sensibilidade e conhecimento do material abordado. Toda a questão das dúvidas que povoam a mente feminina, em qualquer questão concernente aos relacionamentos(superficiais ou em estágios adiantados), estão ali dispostas de forma inteligente e instigante.
    O caso das lacunas é forma de valorizar a inteligência do leitor. Há uma tendência de mastigar tudo para os consumidores das letras. Ao não realizar esse crime, Renato se coloca como parceiro do leitor. O pacto está selado. Eu só não sei se ele é consumado com o sangue. Vocês que tenham o trabalho de imaginar. O autor deu-lhes essa liberdade.

    Obrigado pela leitura, Renato!

    Um abraço,
    André

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  5. Renato, gostei muito do tema e concordo com alguns comentários acima. Resolvi seguir o seu exemplo e também estou fazendo um blog de contos, aonded eu comecei a expor A Serpente... (¬¬ eu tinha que divulgar vai...).
    Passa por lá e deixa um comentário...

    abs--

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  6. Você escreve muito bem renatinho,continua assim que você vai muito longe ! E nesses tempos de hoje é legal ver que alguém se interessa por livros e etc ! beijos Laura

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  7. To bem confusa e por enquanto estou gostando, to doida para as peças se encaixarem!!

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  8. Bizarro. Gostei! Principalmente dos vampiros que brilham ao sol e as meninas que acabaram de entrar na puberdade!
    Que coisa, né?

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  9. hahaha..ri mto.
    "vampiros montaram uma banda emo que brilha na luz do sol."...me lembro livrinhos de crepusculo rs

    ta mtooo bom...

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  10. Welcome to the game, or, who knows:

    "Welcome to my world" ...kkkkkkk

    Quando será o lançamento do livro...

    Bia Marquez

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  11. excelente, se colocar do lado do sexo oposto, pensar como o sexo oposto , e ainda por cima escrever como o sexo oposto, pô, muito bom,parabéns, esse foi o melhor até agora, o mais inspirado, com certeza, muito bom, parabéns, pensar como o sexo oposto, e escrever como este, nossa,simplesmente maravilhoso!!!!!!!!!!!!, parabéns por este petardo maravilhoso aqui cara!!!!!!!!!!!, meus sinceros, parabéns, é isso ai, parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!, muito bom!!!!!!!!!!!!,rrrrrrrrrrsssssssssssssss, parabéns, é isso ai.

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